Um ano depois de estupro, criminoso é condenado e jovem vítima tem convicção de que denunciar é o caminho

12/6/2017 - Há pouco mais de um ano, N., uma jovem advogada de São José dos Campos, foi vítima de uma das maiores violências que se pode sofrer e que atinge em cheio as mulheres em razão do machismo enraizado na sociedade: o estupro. No Brasil, uma mulher é estuprada a cada 11 minutos.

Seu caso ganhou repercurssão, pois N. teve a coragem de denunciar o agressor que acabou sendo capturado e preso. Este ano, o criminoso, Arnaldo Alves da Silva, foi condenado a 21 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão.

A reportagem do blog PSTU Vale foi conversar com N., que também é militante do PSTU, para que ela nos contasse como transcorreram os últimos meses.

A exemplo da época em que sofreu a violência, N. demonstrou muita coragem e fez questão de nos dar a entrevista. "Falar sobre o que aconteceu e de como essa história, de certa forma, terminou, ajuda a me fortalecer e acredito que pode ajudar outras mulheres", disse.

Confira abaixo:

PSTU Vale: O que aconteceu nesse último ano, depois da violência que você sofreu?
N.: Precisei ir a delegacia algumas vezes. Em fevereiro fui ao fórum para a audiência, onde, mais uma vez, fiz o reconhecimento do indivíduo e relatei à juíza tudo o que aconteceu. Aguardei alguns dias e a juíza julgou o processo. Como não poderia ser diferente, ele foi condenado. E não foi condenado somente em razão do meu processo, mas por causa de outro também que ocorreu no mesmo mês que o meu. Ele estava cumprindo pena ainda quando me atacou. Estava em regime aberto. No meu processo, o total da pena dele foi de 21 anos 9 meses e 10 dias de reclusão (juntando estupro, roubo e tentativa de extorsão). No outro caso, foi condenado a 17 anos, um mês e 10 dias de reclusão (estupro e roubo).

PSTU Vale: Como você deu continuidade a sua vida depois do ocorrido? 
N.: Precisei reunir forças e me apoiei em diversas pessoas. Assim, aos poucos, fui retornando a rotina. Mas troquei de carro, não estaciono o carro em qualquer local, precisei fazer um acompanhamento psicológico. Porém, o fato de saber que ele nunca mais fará isso com nenhuma outra mulher, é o que me conforta e me dá força.

PSTU Vale: Como você vê a situação nos dias de hoje em relação à violência contra a mulher e a cultura do estupro? 
N.: É só assistir a TV, ler o noticiário, para encontrarmos uma notícia de estupro de uma mulher, muitas até crianças. Na verdade só me dá mais raiva ao ver isso. Fico horrorizada e sinto pela vítima, mas também sinto uma vontade maior de ir à luta contra tudo isso. Precisamos lutar contra o machismo, combater a cultura do estupro e exgir dos governos, que também são responsáveis pela violência que as mulheres estão sujeitas, políticas de proteção e prevenção contra a violência.

PSTU Vale: O que você diria às mulheres vítimas de violência e estupro?
N.: Que não deve, em hipótese alguma, se sentir culpada em ser vítima, pois a culpa nunca é da mulher. Não existe roupa, lugar aonde ela possa ir, o horário em que sai, nada disso causa o estupro. Meu caso é um exemplo. Estava com corpo todo coberto, saindo do trabalho, em plena luz do dia. E mesmo que estejam com roupa curta, saindo da balada, ou em qualquer outra situação, a culpa nunca será da vítima. E, apesar de ser muito difícil, é preciso denunciar. O silêncio facilita a impunidade.