Grupos de rap e discussões sobre consciência negra marcam Marcha da Periferia em São José

21/11/2016 -Discussão política sobre Consciência Negra e a apresentação de vários grupos de rap marcaram a Marcha da Periferia, que aconteceu em São José dos Campos, no último sábado, dia 19.

Participaram da atividade cerca de 100 pessoas, sendo vários ativistas do movimento negro e do movimento hip hop, ex-moradores da ocupação Pinheirinho, bem como representantes de sindicatos e entidades que organizaram o evento.

O ato, realizado no Jardim Imperial, bairro da periferia na região sul de São José, fechou o quarteirão da rua Felisbina de Souza Machado, onde foi montada a estrutura, com barracas e carro de som.

Vários grupos de rap se apresentaram , trazendo muita rima, poesia e crítica social características deste estilo musical tradicional nas periferias. Estiveram presentes artistas como Priscila Mc, Família Rap da Rua (Guarulhos), D´Origem, Vandinho, Pra Frente Neguin, Invasores do Vale e Lado Oposto. Houve ainda apresentação de poesias com a jovem Jéssica e exposição de fotos da ocupação Pinheirinho e líderes históricos do movimento negro.

Aquilombar para reparar
Com o tema “Aquilombar para Reparar”, definido nacionalmente pela Marcha da Periferia este ano, várias das intervenções no ato deste sábado destacaram a necessidade de nos organizarmos, negros, negras e trabalhadores em geral, para lutar contra o racismo e a exploração que persistem nos dias de hoje, mesmo depois de 128 anos do fim oficial da escravidão. Críticas aos ataques que estão sendo preparados pelo governo de Michel Temer (PMDB) e pelo Congresso também deram o tom das denúncias.

Luiz Carlos Prates, o Mancha, falou em nome da CSP-Conlutas e destacou a participação de negros nas lutas que marcam a situação do país no ultimo período. “Se, por um lado, estamos vendo que os negros e negras são os mais atingidos pela piora nas condições de vida e ataques dos governos, como o desemprego, os postos de trabalho terceirizados e mais precarizados, a violência nas periferias, vemos também que nas lutas que hoje sacodem o país negros e negras tem protagonismo, estão na linha de frente. Precisamos fortalecer essas lutas, nos aquilombar,” disse.

Raquel de Paula, militante do PSTU e do Movimento Quilombo Raça e Classe destacou que precisamos nos organizar para dar um basta às mortes da juventude negra nas periferias, à violência machista que penaliza ainda mais as mulheres negras e barrar os ataques dos governos.

“Ainda hoje, negros e negras sofremos com as ideologias racistas. As mulheres e a juventude negra são os que mais sofrem. Por isso, precisamos nos mirar no exemplo de luta e resistência de nossos ancestrais como Zumbi dos Palmares, Dandara, Acotilene e tantos outros, para construir Conselhos Populares, novos quilombos, para lutar por uma política econômica e um governo dos trabalhadores”, disse.

Hertz Dias, militante do Quilombo Urbano, movimento hip hop do Maranhão que deu início à Marcha da Periferia, em 2006, falou da gravidade dos ataques que o governo Temer está preparando, mas também lembrou a responsabilidade dos governos do PT nos ataques ao povo negro e diante da situação do país.

“Tivemos 12 anos de governos do PT e também assistimos vários ataques ao povo negro. Foi o PT que garantiu a ocupação do Haiti. Nos últimos anos morreram 272 mil negros e negras, mas não é um problema apenas de aumento da violência, pois para homens e mulheres brancas a violência reduziu, mas para negros e negras, a violência aumentou. Este é o resultado de anos e anos de governos da burguesia”, disse.

“O que vemos hoje é que o poder saiu das mãos dos capatazes e voltou pra mão da Casa Grande. E vamos ter de derrubar o sinhozinho da Casa Grande e suas reformas, como do ensino médio e a PEC 55 que vão prejudicar fortemente negros e negras. Não tem onda conservadora na cabeça dos pretos e pretas que estão em todas as lutas que estão ocorrendo no país. O que tá faltando pra nós é organização e reconstruir o que o PT destruiu”, disse.

O presidente do PSTU de São José dos Campos, Toninho Ferreira, também fez uma intervenção no ato. Toninho lembrou a organização da Ocupação Pinheirinho, onde foi tradicional durante seus oito anos de existência comemorar o dia 20 de novembro. “O Pinheirinho foi um quilombo, com o povo pobre e negro organizado, como defendemos que tem de ser. Ali construímos um bairro e o povo pobre mostrou que sabe se organizar e sabe fazer”, disse.

Toninho falou ainda do dia nacional de greves e paralisações no próximo dia 25 e fez um chamado à participação de todos. “Como diz o lema da Marcha da Periferia é preciso aquilombar para mudar a sociedade, nos organizar para lutar contra o desemprego, os baixos salários, o racismo, o machismo, a homofobia. E o próximo dia 25 de novembro, dia nacional de greves e paralisações, será mais um momento para fortalecer essa luta”, disse.

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