Prefeitura de São José investe em “operação antipoeira”, uma medida paliativa e polêmica

19/5/2016 - Só quem mora em ruas que não são asfaltadas conhece bem os problemas enfrentados, seja na época do calor ou das chuvas. Quando não é aquele “poeirão” que torna o ar insuportável, é a lama na época das chuvas, que chega a impedir o tráfego de carros, ônibus e até bicicletas. Esta é uma triste realidade principalmente na periferia e é por isso que o asfalto costuma ser uma das principais reivindicações da população.

Em São José dos Campos, o governo Carlinhos (PT) lançou no final do ano passado a chamada “Operação Antipoeira”, um sistema que consiste na aplicação de um composto com óleo de xisto betuminoso em ruas e estradas de terra do município. O material imita a aparência de uma pavimentação convencional, mas não é asfalto.

Medida paliativa
Segundo a Prefeitura, as características do produto permitem que ele seja aplicado em locais com baixo volume de tráfego. São José seria a primeira cidade do estado a utilizar o método. Trata-se de uma alternativa de baixo custo, entre 20% e 40% mais barato que o asfalto convencional.

Em ano eleitoral, a Operação Antipoeira tem sido usada pelo governo do PT como um trunfo para centenas de famílias que moram em bairros sem infra-estrutura da cidade.

À primeira vista, o resultado pode parecer satisfatório, afinal, a impermeabilização que o material possibilita elimina a poeira e a lama. Entre continuar vivendo em meio ao pó e a lama, obviamente, que a população tem aprovado a obra.

Mas a realidade é um pouco mais complexa. Este tipo de asfalto tem durabilidade bem inferior à pavimentação comum e o uso do xisto ainda tem muita polêmica em relação aos impactos ambientais e à saúde.

"A extração do xisto recebe críticas quase que unânimes da comunidade científica, por ser um processo muito mais poluente que o próprio petróleo. Porém, ao mesmo tempo, é muito mais barato, sendo uma das principais fontes de energia hoje nos EUA, mas proibido em alguns países, como a França, por exemplo. O método de extração, chamado fracking, é bastante agressivo”, explicou o ambientalista e advogado Denis Ometto.

Entre os problemas causados, segundo o ambientalista, estão a contaminação de aquíferos, solo e lençol freático, grande quantidade de água necessária no processo, retirando-a dos ecossistemas locais, poluição por carbono 20% maior que a da extração de carvão, podendo ter relação até com terremotos, entre outros.

“Só a extração do xisto já causa um impacto gigantesco e o seu uso não deveria ser incentivado, principalmente pelo poder público”, opina Ometto.

“A Prefeitura diz que o óleo não é poluente, porque usam solventes leves e que o solo é preparado para receber o produto. Mas, isso não convence. Não está descartado que o composto possa causar contaminação no solo e penetrar até o lençol freático. Essa camada, com o tempo e com o tráfego de veículos vai se desgastando. E aí, na minha opinião, surge um outro problema. Com o desgaste, o composto vai se esfarelando aos poucos e gerando uma poeira mais nociva que a terra. A inalação pelas pessoas pode trazer efeitos nocivos em pulmões e vias respiratórias”, disse Ometto.

“Acredito que o uso do xisto betuminoso não é a solução para a poeira, porque é uma solução muito temporária, bem meia boca, e pode ter efeitos nocivos à saúde. A melhor solução seria a pavimentação com bloquetes sextavados, que, inclusive, não impermeabilizam o solo 100%, deixando a água da chuva penetrar na terra, como deve ser. Outra solução é o asfalto feito a partir de pneus reciclados, que já existe e é usado em alguns locais do país”, concluiu o ambientalista.