Palestra com Zé Maria: “É preciso tirar todos eles. Como é que a gente bota para fora? Com luta, com os trabalhadores e o povo na rua”

15/4/2016 - Em meio a uma das maiores crises políticas da história do país, em que um governo do PT após 12 anos vê sua presidente da República na iminência de um impeachment, em que a cada dia mais e mais escândalos de corrupção vêm à tona, a maioria dos trabalhadores e da população se pergunta o que fazer e qual a saída. Afinal, não é só uma crise política. A economia do país também vai de mal a pior.

Para debater estes temas é que o presidente nacional do PSTU, Zé Maria, esteve em São José dos Campos nesta quinta-feira, dia 14, para uma palestra na sede do partido. O debate contou também com a participação de Ernesto Gradella, ex-deputado federal, e Toninho Ferreira, presidente PSTU de São José e suplente de deputado federal.

Com a casa cheia, trabalhadores de várias categorias, estudantes, aposentados, profissionais liberais, entre outros, Zé Maria falou a avaliação do partido sobre os motivos que levaram à ruptura da maioria dos trabalhadores e da população com o governo petista, sobre o que de fato está em jogo na disputa entre o governo e a oposição de direita, a saída que eles têm para a crise econômica e rebateu o falso discurso de que no país está em curso um “golpe contra a democracia”, bem como apontou qual a saída que o PSTU defende para a crise.




Confira alguns trechos da palestra:
 “A atual crise política não se trata de um conflito entre direita e esquerda. O que existe são dois blocos alinhados com os setores da direita deste país, setores inimigos dos trabalhadores. A direita está no bloco do PSDB e PMDB, mas também está no governo do PT. Afinal, o que é a presença de Kátia Abreu, a presidente da maior instituição do agronegócio no país, no ministério da agricultura?”, disse Zé Maria. “Não foi o PT que rompeu com o PMDB. Foi o PMDB que rompeu com o governo. E o que o PT fez? Correu para abraçar o PP de Maluf e outros bandidos deste país. Essa é a escolha do PT”.

“Eles disseram que só não fizeram mais no governo a favor do povo, pois outros partidos e outros setores não deixaram. Mas nunca chamaram os trabalhadores às ruas para defender a reforma agrária, contra as demissões, por mais verbas para a saúde ou uma educação. Fazem agora. Mas para quê? Para defender o governo. O fato é que as agruras que penalizam os trabalhadores passam longe da preocupação do PT, PMDB, PSDB ou do Congresso. Eles estão é brigando para ver quem governa, mas na hora de atacar nossos direitos estão juntos”.

 “Dizem que um governo Temer vai ser muito pior, com uma reforma da Previdência, com ataques à Petrobras. Em um recente debate com uma camarada afirmei: Temer tá atrasado. Já foi. Esses ataques a Dilma já está fazendo. Recentemente, o governo do PT em acordo com o PSDB tirou da Petrobrás a prioridade da exploração do pré-sal. A reforma da Previdência tá aí. O único problema que eles enfrentam é que pela crise atual as coisas não avançam ainda mais. A disputa entre eles é para ver quem aplica esses ataques. Ou seja, vai piorar demais com qualquer um deles se os trabalhadores não reagirem”.

“Por isso, dizemos que os trabalhadores não podem defender nenhum dos dois lados. Pelo contrário. A saída é lutar contra os dois. Não podemos ser contra o impeachment, o que significa ser a favor de manter o governo da Dilma. Tampouco podemos ser a favor do impeachment, o que significa colocar o Temer. O impeachment não muda a situação. É preciso tirar todos eles. Como é que a gente bota para fora? Com luta, com os trabalhadores e o povo na rua”.

 “Há quem diga que está ameaçado o Estado Democrático de Direito com o impeachment de Dilma. Ora, não existe isso para os trabalhadores e o povo pobre neste país. A cada ano cerca cinco mil jovens negros e pobres são assassinados pela PM nas periferias dos centros urbanos no Brasil. Queria saber se os defensores do governo teriam coragem de dizer para a mãe de um destes jovens sair às ruas para defender o governo Dilma em nome do estado democrático de direito”, disse.

“Defesa do estado democrático de direito é só quando é para o Lula não depor? Para defender o mandato da Dilma? A Justiça nunca foi neutra. Que o digam os trabalhadores que já fizera greve, que tiveram um aumento de salário negado. Na Embraer, a justiça considerou as demissões ilegais. Alguém da direção da empresa foi preso? Só agora o PT descobriu que a justiça tem lado?”.

“É logico que a justiça deveria também estar atrás do Aécio, da corja do PMDB, do Maluf. Mas no final das contas eles estão todos juntos, são farinha do mesmo saco. Equiparar a defesa da democracia apenas com base no processo eleitoral, uma eleição financiada e controlada por banqueiros, empreiteiras e TV é rebaixar demais o horizonte da esquerda deste país”.

“Nem a Dilma acredita nessa suposta ameaça de golpe. Em entrevista ela disse que se perder a votação do impeachment é carta fora do baralho. Se ganhar, vai chamar um governo de unidade nacional com todos, inclusive a oposição. Ou seja, os supostos golpistas. Ora, essa história de golpe não passa de conto para boi dormir. É uma tentativa de ganhar o apoio dos trabalhadores para se manter no poder”.

“É um crime o que boa parte das organizações da classe trabalhadora fazem neste momento, como a CUT, o MST, MTST e outros, por que seria possível por para fora todos eles, exigir eleições gerais e dar outro rumo à política econômica desse país. Mas, infelizmente, com esse falso discurso do golpe, eles estão é se alinhando para manter no poder esse governo, que junto com essa oposição, quer atacar os direitos dos trabalhadores”.

“A saída é construir um governo dos trabalhadores. Mas não apoiado em um Congresso como esse que está aí. Mas sim apoiados em Conselhos Populares, nas organizações da classe trabalhadora, para acabar com os privilégios dos bancos, das grandes empresas e multinacionais, e para aplicar no país um programa econômico que atenda as necessidades da classe trabalhadora. Não pagando a dívida publica aos banqueiros e investir na saúde, educação, moradia, transporte. Estatizar os bancos e as grandes empresas que estão demitindo a torto e a direito. Esse é nosso objetivo. Se não temos como fazer neste momento, pelo menos, que se convoquem eleições gerais já, para que o povo possa trocar todos eles. Mas nossa perspectiva é a construção, nas lutas, de um governo socialista, sem exploração e opressão”.

Em seguida de Zé Maria, Gradella e Toninho também falaram aos presentes.

Ex-deputado federal e um militante histórico da esquerda, Gradella destacou o fato de o governo e oposição de direita terem o mesmo programa. “Falam que é preciso enfrentar a crise e para isso seria preciso fazer o ajuste fiscal, cortes nos direitos e áreas sociais. Eles querem uma nova reforma da Previdência, terceirização, privatização, ataques aos direitos. E por quanto tempo isso ai vai durar até que eles queiram mais ataques? Até o capitalismo entrar em crise de novo. Sempre vão jogar a conta para nós. Em toda a crise, a alternativa apresentada pelo capitalismo é sempre a mesma: cortar direitos da classe trabalhadora”, disse.

Toninho fechou a primeira parte da palestra, antes de abrir às perguntas e falas dos presentes, falando sobre a necessidade de uma Greve Geral e dos trabalhadores entrarem em luta para colocar todos para fora, garantir eleições gerais e um novo modelo econômico a serviço dos trabalhadores.

“Quando falamos em eleições gerais já, é sob novas regras. Sabem por quê? PT, PMDB, PSDB não querem novas eleições, principalmente para todos os cargos. Um ou outro considera essa hipótese, mas no máximo só para presidente. Isso porque eles querem seguir o calendário eleitoral a cada dois anos para manter tudo sob controle. Antecipar as eleições não é inconstitucional. Defendemos a revogabilidade dos mandatos. Inclusive, é preciso acabar com os privilégios dos políticos, com redução de salários, de forma que um deputado ganhe o mesmo que um operário especializado e um professor”, disse.

“Mas é preciso uma forte greve geral neste país. Com uma greve geral bagunçamos o coreto deles. Uma greve para tirar todos, para que se tenha um outro projeto econômico, a favor dos trabalhadores”, disse Toninho.