Sob ameaças e ataques, indígenas Guarani Kaiowá defendem retomada de terra no MS

Foto: Douglas Dias
25/1/2016 - Por Douglas Dias
A apreensão pode ser vista no rosto de cada indígena. Mesmo enquanto trabalham, os olhos permanecem atentos para a chegada de pistoleiros ou mesmo dos policiais do DOF (Departamento de Operações de Fronteira). Esta é a realidade dos índios Guarani Kaiowá, que vivem na aldeia Takuara, em Mato Grosso do Sul.

Os indígenas seguem em luta pela retomada da aldeia de Takuara e vivem momentos de tensão, sob ameaça de pistoleiros e jagunços a serviço do fazendeiro Jacinto Honório da Silva, que se diz dono de uma área de 4700 hectares (Fazenda Brasília do Sul) localizada irregularmente dentro de uma área indígena.

Desde o dia 15, os índios Guarani Kaiowá estão enfrentando ataques comandados pelo fazendeiro. Eles foram obrigados a abandonar a aldeia e acampar na mata, de forma precária, sem nenhuma proteção. Embora tenham retomado a terra, estão cercados por homens armados e se sentem constantemente ameaçados.

E como se não bastassem os pistoleiros, policiais do DOF também se posicionam na defesa dos interesses do fazendeiro.

Provocações
Na madrugada desta quinta (21), os jagunços voltaram a realizar provocações. Os Guarani Kaiowá permaneceram despertos até o amanhecer. As ações, no entanto, continuaram durante todo o dia. No período da manhã, os caminhões que lançam veneno sobre o terreno apareceram ao menos duas vezes.

No início da tarde, as provocações recomeçaram. O coordenador da Fazenda Brasília do Sul, Ramon Evangelista, circulou de caminhonete pelo terreno enquanto gravava e fotografava os índios. Apesar do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que impede a atuação do DOF no conflito, uma viatura com quatro agentes também vigiou a entrada do terreno no início e no fim da tarde, na tentativa de intimidar os índios.

O clima continua tenso. Nem mesmo as visitas da Funai e de parlamentares fizeram os pistoleiros recuarem. Os indígenas temem que fazendeiro, jagunços e DOF tentem realizar alguma ação durante a noite. Apesar das tentativas de intimidação, os Guarani Kaiowá já deixaram claro que vão defender a retomada e o direito à Takuara até o fim.

Para defender seus interesses, o fazendeiro utiliza pistoleiros em caminhonetes que ameaçam os indígenas e circulam armados pela região. Além disso, os jagunços têm destruído, poluído e até envenenado intencionalmente as fontes de água da região para forçar os índios a deixarem a terra.

Também é preciso denunciar o papel dos agentes do DOF que têm circulado pelo local fortemente armados, e avançado com as caminhonetes em alta velocidade, quase atropelando as crianças indígenas.

Histórico
A luta pela terra nesta região tem muita história, mais de 80 anos, segundo os próprios índios. Após anos aguardando a demarcação pelo governo, o cacique Marcos Verón liderou a primeira retomada em 1997, sendo assassinado por pistoleiros em 2003, enquanto defendia a terra.

Em 2010, o Ministério da Justiça reconheceu as terras e emitiu uma portaria declaratória, que concede a posse provisória aos índios. Mas para garantir a permanência na terra, falta a homologação da área pelo governo federal.

Segundo o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), cerca de 390 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul nos últimos 12 anos. Outros 500 cometeram suicídios, devido às humilhações e violência a que são submetidos.

*Douglas Dias é jornalista do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e foi ao Mato Grosso do Sul onde visitou a aldeia

fonte: www.sindmetalsjc.org.br