Aumentam ocupações de escolas contra projeto de Alckmin. Em entrevista, professores de São José falam sobre mobilizações

16/11/2015 - Esta semana começa com 28 escolas estaduais ocupadas na capital, região metropolitana e cidades do interior de São Paulo. É a resistência dos estudantes contra o projeto de "reorganização" do governador Geraldo Alckmin (PSDB), que prevê a divisão das escolas da rede por ciclos e fechamento de, pelo menos, 93 unidades.

A primeira ocupação ocorreu na noite do dia 9 na E.E.Diadema. No dia seguinte, começou a ocupação da E.E. Fernão Dias Paes, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Além de pais e professores, estudantes de outras escolas e movimentos têm prestado solidariedade às ocupações, que a cada dia ganham repercussão e apoio.

A Justiça chegou a pedir reintegração de posse da Fernão Dias e de Diadema, mas os pedidos foram suspensos, numa importância vitória da mobilização. O governo Alckmin e a PM, como sempre, tem agido com violência e truculência. Na Fernão Dias, a PM tratou alunos na base do gás de pimenta.

No sábado, dia 14, a Secretaria de Educação marcou um dia para “tirar dúvidas” de pais e alunos. E, mais uma vez, a reação da comunidade é de indignação com o autoritarismo do governo e o descaso com a educação.

Em São José, professores da Oposição Alternativa da Apeoesp estiveram em duas escolas, Moabe Cury e Miguel Naked, que serão afetadas pelo projeto do governo e protestaram junto com pais e alunos.

O Blog PSTU Vale entrevistou os professores Marcileni Mota e Edinoel Carvalho sobre essa luta. Confira:

Marcileni Mota
Blog PSTU Vale - Depois dos protestos contra a proposta do governo Alckmin, começaram agora as ocupações das escolas. Como vocês veem essa situação?
Marcileni - É brutal o ataque do governador Geraldo Alckmin (PSDB) em fechar 94 escolas e vários períodos escolares e, felizmente, a reação é de muito repúdio e luta.
Trabalho na Escola Estadual Major Miguel Naked, no Jardim Morumbi, zona sul  de São José dos Campos. Aqui, na nossa escola, o governo vai fechar o período noturno. É um prejuízo muito grande para a comunidade, pois muitos alunos trabalham, são menores aprendizes e necessitam estudar no período noturno.

Os alunos estão indignados com a medida, pois terão que ir estudar em uma escola mais longe. O
Edinoel Carvalho
governo transfere a história da nossa comunidade sem debate algum com os pais, professores e alunos.

Receberam com indignação a notícia da “desorganização” do governo, o que gerou revolta e mobilização da comunidade escolar, indo às ruas, fazendo cartazes de protestos, coletando abaixo-assinado e entregando à Direção Regional de Ensino de SJCampos e região.

Blog PSTU Vale - O governo alega motivos pedagógicos para as mudanças. Por que os movimentos não concordam com isso? 
Marcileni - Na escola Miguel Naked, por exemplo, temos 13 salas do Ensino Médio no período da manhã e 5 no período da noite. No período da tarde, são 9 salas do Ensino Fundamental. Ou seja, aqui os alunos já estão separados por ciclo. Isso demonstra que o argumento do governo é mentiroso.

Ele vai mesmo é fechar o período noturno da nossa escola, arrancando da comunidade o direito de estudar perto de casa, no período noturno. O argumento de separar alunos para melhorar o trabalho pedagógico é uma falácia. Cabe a escola e as famílias a contribuição  para que todos aprendam a conviver de maneira respeitosa e harmoniosa, conforme a Lei de Diretrizes e Base da Educação e a própria Constituição Federal.  Deve haver uma troca e socialização dos conhecimentos e informações entre todos os envolvidos na escola.   Na sociedade ninguém vive separado.

Edinoel - Infelizmente, o governo não está preocupado com o trabalho pedagógico e a qualidade de ensino. Prova disso, é que autoriza  professor de matemática substituir um professor de língua estrangeira (inglês), por exemplo. Ou um professor de língua portuguesa substituir, com frequência, um professor de química ou de outra área que não tem habilitação para lecionar. Constantemente isso ocorre.  No momento do Enem, este aluno é totalmente prejudicado.

Se o governo de SP tivesse preocupação real  com o trabalho pedagógico e a qualidade de ensino, cumpriria a Lei do Piso, que é uma lei federal,  que garante que o professor tenha um terço de sua jornada fora da sala de aula, pensando no Projeto Pedagógico, propondo atividades que atendam a realidade de cada turma e da escola.

Haveria tempo para elaborar atividades, avaliações, pensar em uma aula diferenciada. Mas nada disso acontece e o professor e  as professoras principalmente,  80% da Rede Estadual de Ensino, tem que levar todo este trabalho para ser feito em casa, nos finais de semana e  nas horas que deveriam ser para o seu descanso. Não é por acaso que a categoria de professores é uma categoria adoecida pelo excesso de trabalho, baixa remuneração e que enfrenta cotidianamente a violência dentro da sala de aula e da escola, conforme noticia a mídia frequentemente.

O que melhoraria a qualidade de ensino seria a valorização da categoria de professores, menos alunos em sala de aula e investimentos no setor. Nada disso acontece.

Blog PSTU Vale - Há uma estimativa do real alcance da reorganização que o governo pretende fazer nas escolas? 
Marcileni - Serão 94 escolas fechadas e períodos noturnos também. Isso sem contar milhares de alunos que serão transferidos. O governo pretende avançar nestes números, só não fez tudo de uma vez em razão das mobilizações que demonstram a insatisfação de toda comunidade nos quatro cantos do Estado de São Paulo.

Edinoel  - O discurso de Geraldo Alckmin e Herman (PSDB) é apenas mais um argumento mentiroso para fechar escolas, superlotar salas de aula  e demitir massivamente a categoria do magistério.
Nossa preocupação é muito grande, pois sem perspectivas, crianças e jovens sem direito à educação acabam alvo da criminalidade. E o que vemos é o governo do PSDB fechar escolas e abrir presídios.

Blog PSTU Vale - Essa experiência já foi tentada anos atrás e não deu certo. Por quê?
Marcileni – A ex-secretária da Educação, Rose Neubauer, tentou fazer algo parecido e não deu certo. O que houve foram milhares de demissões e a educação não melhorou. O que pode contribuir para a qualidade de ensino é a valorização profissional e investimentos massivos no setor. Fechar prédios e períodos escolares não contribui para melhorar a qualidade ensino e, consequentemente,  os resultados nas avaliações que mostram que alunos dos ciclos finais não conseguem fazer as operações básicas de matemática e interpretação de textos.

Blog PSTU Vale - Dilma também fez cortes na Educação. Afinal, qual a política dos governos para a educação hoje?
Marcileni - Hoje a política dos governos para a Educação é de cortes de verbas e desemprego dos trabalhadores(as) para garantir o dinheiro para os grandes banqueiros e empresários. Alckmin cortou mais de R$ 1 bilhão este ano. Dilma cortou mais de R$ 10 bilhões. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT), considerou “recomendável” a reorganização que o PSDB quer fazer. Nesta história, quem continua pagando a conta são os(as) trabalhadores(as) por meio de impostos excessivos, sem direito à saúde e educação.

Blog PSTU Vale -  É possível barrar essas mudanças?
Marcileni - O governo mudou sua tática para o último dia 14 devido às mobilizações e ocupações das comunidades escolares nas escolas “desorganizadas”. Na escola em que trabalho, por exemplo, a diretora, sem comunicar aos professores, fez reunião em separado  com os pais, no decorrer da semana. Amanhã ela pretende receber os alunos da EE Joaquim de Moura Candelária (escola em que irão nossos alunos do Ensino Médio), numa recepção tímida para não haver aglomeração e protestos. Ou seja, o governo sentiu o repúdio da população e está tentando achar uma saída.

Edinoel - Creio que é possível barrar as mudanças. Afinal, político precisa de votos e Alckmin deve ter pensado que nada abalaria o grande cacife eleitoral que ele conseguiu nas últimas eleições, quando reelegeu-se com quase 70% dos votos. Mas, hoje, 62% da população é contra a reorganização escolar e se as ocupações continuarem e a população continuar se manifestando ele não irá arriscar a sua popularidade. Ele sabe que a sua rejeição junto ao eleitorado também vem aumentando. A força da mobilização está levando a justiça a revogar pedidos de reintegração e a própria secretaria já admite rever fechamento de algumas escolas. Creio que o caminho é esse, o da mobilização. Não devemos recuar.

Ato, dia 28/10, em frente à escola Moabe Cury, na zona sul de São José

Passeata, dia 15/10, que fez Alckmin cancelar palestra em São José