Crise para quem? Bancos lucram como nunca

5/8/2015 - Os principais bancos brasileiros iniciaram uma nova rodada de divulgação de seus lucros deste ano, agora referente ao segundo trimestre. Novamente, ganhos recordes. Na verdade, exorbitantes, principalmente quando se constata que o país vive uma grave crise econômica e está à beira da recessão.

O mais recente lucro anunciado é do Itaú Unibanco, no valor de R$ 5,9 bilhões, o maior já registrado pelo banco neste período. No semestre, o lucro totalizou R$ 11,7 bilhões, contra R$ 9,3 bilhões nos primeiros seis meses de 2014.

O Bradesco também apresentou seu balanço e anunciou um lucro de R$ 4,4 bilhões no segundo trimestre de 2015, após atingir R$ 4,2 bilhões nos três meses anteriores - um aumento de 5,4%. O maior de sua história neste período também.

Já o Santander Brasil teve lucro líquido de R$ 1,6 bilhão no segundo trimestre de 2015, crescimento de 2,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No primeiro semestre de 2015, o lucro total somou R$ 3,3 bilhões, 15,5% acima dos R$ 2,8 bilhões verificados no mesmo período do ano passado.

Concentração bancária
Outro fato da semana no setor é a aquisição do HSBC pelo Bradesco, fato que irá aumentar ainda mais a concentração das operações bancárias no Brasil.

Levantamento feito pela subseção do Dieese no Sindicato dos Bancários de SP, com base em dados do Banco Central, revela que atualmente os cinco maiores bancos do país (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Federal e Santander) respondem por 80% de todos os ativos do sistema financeiro nacional. Com o novo negócio, passam a controlar 83%. Em 1995, os cinco maiores possuíam 56% dos ativos.

Ainda segundo o Dieese, o controle das operações de crédito cresce de 84% para 86%; o total dos depósitos à vista, acumulados em cinco instituições financeiras, sobe cinco pontos, de 87% para 92%. Esses cinco bancos passam a concentrar 96% dos depósitos em poupança (um ponto percentual a mais) e 91% das agências de todo o país, ante 87% antes da venda do HSBC.


Tempos de crise...
A pergunta que surge é: e a crise? Afinal, o ano de 2014, no Brasil, foi de economia estagnada, com um crescimento pífio de 0,1% e, para 2015, a previsão é ainda pior: economistas estimam uma retração de 1,80% no Produto Interno Bruto (PIB). Setores como a indústria já vive claramente uma recessão.

Por isso, em toda a crise, o que devemos perguntar é crise para quem e quem paga. E está claro o que está acontecendo no Brasil, assim como em outros países: os trabalhadores e o povo estão pagando, com desemprego, inflação, caos nos serviços públicos, redução de direitos e ataques à aposentadoria, para garantir os lucros de banqueiros e grandes empresários.

Mas de onde vêm esses lucros? De uma política econômica que privilegia o setor e faz com que os bancos brasileiros sejam mais rentáveis até que as instituições norte-americanas, segundo levantamento feito pela consultoria Economatica.

A base desses lucros escandalosos é a especulação com os títulos da dívida, a taxa básica de juros mais altos do mundo, demissões de trabalhadores e cortes de custos, aumento das tarifas, spread bancário e crédito.

De acordo com o Dieese, os bancos detêm expressiva parcela (cerca de 30%) dos títulos da dívida pública federal e as receitas com títulos e valores mobiliários representam a segunda maior fonte de ganhos, depois das operações de crédito. A taxa Selic que foi aumentada pelo Banco Central na semana passada para 14,25%, o maior patamar em nove anos, é um prato cheio para os banqueiros, que especulam livremente com esses títulos.

Outro exemplo dessa fonte de lucros é a cobrança de taxas e prestação de serviços. Em 2014, os cinco maiores bancos arrecadaram R$ 104,1 bilhões, 10,9% a mais que o ano anterior. O valor deu para bancar, com folga, todos os gastos com os 451 mil bancários que, em 2014, custaram R$ 74,6 bilhões (somados os salários, encargos, cursos e treinamentos).

A redução de despesas, leia-se, demissões é outra forma de ganhar dinheiro. Em 2014, esses mesmos bancos cortaram 5.104 empregos. Só no primeiro trimestre deste ano, cerca de 3.000 postos de trabalho já foram cortados.

Acabar com a farra dos banqueiros
Em resumo: a usura dos banqueiros não têm limites, pois a política do governo Dilma, a exemplo do que foram os governos de Lula e FHC, é jogar a conta da crise sobre os trabalhadores e a maioria do povo, para garantir os lucros dos bancos e empresários.

Para por fim à farra dos bancos é preciso suspender o pagamento da Dívida Pública e estatizar o sistema financeiro, sob controle dos trabalhadores. Somente assim será possível acabar com a agiotagem dos banqueiros e usar o sistema bancário para garantir crédito barato para a população e financiamento de medidas como a produção de alimentos, construção de hospitais, escolas, moradias populares, enfim, para servir às necessidades dos trabalhadores e do país.