Aumento da tarifa de ônibus: empresários e governantes não aprenderam com junho passado?

21/11/2014 - Por Danilo Zanelato*

Esta semana, foi amplamente divulgada uma reunião entre o prefeito de São Paulo (Fernando Haddad - PT), alguns prefeitos petistas e da base aliada e os empresários de transporte. Neste “encontro de amigos” foram debatidas as estratégias que serão adotadas para garantir o aumento da tarifa do transporte urbano na capital e nas cidades da região metropolitana de São Paulo.

Os políticos pretendem aumentar a tarifa para garantir os lucros das empresas de transporte, mas ainda estão receosos com as manifestações que tomaram o país em junho do ano passado. Por isso, toda a preparação para ver como aplicar o reajuste. Mas, o fato é que nem bem passaram as eleições, quando os partidos e políticos receberam cifras milionárias das empresas, agora vem a cobrança da fatura.

E agora José?
Em São José e região não é diferente. As empresas que operam o sistema de transporte de São José dos Campos também já se movimentam para aumentar o preço da tarifa dos ônibus. Em matéria publicada no jornal O Vale na última terça-feira, 18, a Secretaria de Transportes e o consórcio das empresas de transporte disputam entre si quem defende da maneira mais despretensiosa o aumento da passagem.

As empresas – coitadinhas - dizem que estão no prejuízo com os mais de três milhões de passagens pagas. A desculpa é o sistema de integração que, segundo elas, está “desequilibrando” a balança, em favor dos usuários.

Recortaram e costuraram dados pra defender a necessidade do reajuste, quando a realidade é outra: as empresas que administram o transporte público lucram, e muito, sobre o suor de quem é obrigado a utilizar um ônibus feito pra transportar carga, um transporte que massacra as pessoas que o utilizam.

Como a ganância dos empresários não tem limite, toda dissimulação é pouca quando o objetivo é aumentar os seus lucros. Na matéria, de forma mascarada, as empresas apresentam o número de pagantes versus o número de integrações, alegando que o sistema está “ameaçado” pela superação do segundo pelo primeiro.

Como se fizesse diferença quem paga com duas moedas de cinquenta centavos ou de um real, como se os milhões arrecadados mensalmente com os créditos das carteirinhas não fossem para o bolso dos mesmos empresários!

Ninguém faz integração de graça. Se paga, e caro, como todos. Sem contar que o sistema é insuficiente e ineficaz.

O pessoal faz a carteirinha, mas não tem nem linha entre os bairros e nem entre as regiões nessa cidade. É uma lógica burra, onde os usuários precisam passar pelo centro da cidade para transitar entre as regiões e bairros. E tem apenas duas horas. Ou seja, um sistema que não visa os usuários e sim o lucro dos barões do transporte.

Somado a isso, as empresas sucateiam o serviço e pagam salários baixíssimos para os motoristas e cobradores, visando sugar, novamente nas costas do trabalhador, o máximo de lucro possível. Qualquer usuário do transporte público pode citar a quebra dos ônibus e a superlotação como fatos corriqueiros da vida diária.

Na tentativa desesperada de se vitimizar, as empresas escondem os dados de uma cifra que já conhecemos bem: é exorbitante o valor que lucram com a tarifa. É imoral. Por que as empresas não comentaram a dedução de impostos e a liberação de publicidade que ganharam da Prefeitura?

A nota da Prefeitura, que poderia ter sido selada com um beijo, na prática demonstra que ela pretende atender aos interesses dos empresários.

Estatizar o transporte é a solução
Não podemos pagar a conta por esse sistema que beneficia unicamente as empresas, com a conivência da Prefeitura. Já passou da hora do transporte público, gratuito e de qualidade, que foi a pauta que impulsionou as jornadas de junho de 2013, ser considerado como um direito essencial dos trabalhadores.

Contudo, enquanto o número de usuários do transporte público só cresce, os investimentos para o setor só diminuem. A atual política para transporte não é feita para atender aqueles que dependem dos ônibus. O equilíbrio que a Prefeitura busca é aquele que beneficia as empresas que, ao reduzirem os gastos para as melhorias, optam por aumentar os seus lucros e piorar a qualidade, tornando o sistema cada dia mais caro, sucateado e superlotado.

O transporte público precisa parar de servir a alguns senhores empresários e passar para as mãos dos trabalhadores, que são quem utilizam e conhecem as suas necessidades e demandas.

As empresas de transporte de São José precisam ser estatizadas, sem indenização, para que o transporte coletivo possa servir, de fato, como um direito e não como uma mercadoria.

Cabe a nós romper com a lógica gananciosa das empresas e denunciar a postura omissa da Prefeitura que toma o lado de uns poucos senhores em detrimento da imensa maioria.

Se foi ou não por 20 centavos as jornadas de junho de 2013, muitos ainda debatem. Mas com o aumento da tarifa, certamente, outros junhos virão! E segue um recado aos donos do poder: se a tarifa aumentar, a cidade vai parar!

Danilo Zanelato é militante da juventude do PSTU de São José dos Campos e esteve à frente dos protestos em junho de 2013