Artigo: Caso de racismo da PM em São José merece repúdio e punição
O caso aconteceu na última sexta-feira, dia 29, quando policiais militares, um deles com arma em punho, abordou os jovens negros Jefferson Correa e Fabiano dos Santos no calçadão do centro de São José, sob suspeita de roubo. Ao perceber a abordagem violenta e racista, Claudinei Correa, pai de um dos jovens, corajosamente começou a denunciar a agressão e pedir ajuda.
O motivo da abordagem foi um só: para a PM, negro é sempre bandido. Essa é a única explicação já que os dois jovens não faziam nada no momento além de olhar vitrines. Indignado, Claudinei mostrava a nota fiscal de uma compra que haviam acabado de fazer.
A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Assembleia Legislativa de São Paulo vai convocar o comando da Polícia Militar para prestar esclarecimentos sobre o caso.
A Corregedoria Interna da PM comunicou que vai investigar as denúncias. Infelizmente, não dá pra esperar muita coisa já que, na maioria dos casos em que a polícia investiga seus próprios crimes, nada acontece. É ilusão acreditar que a polícia vai punir seus próprios agentes.
Até hoje segue impune a morte do jovem grafiteiro David, morto pela PM de São José no ano passado.
Uma pesquisa da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) revelou o racismo da PM paulista. Nos anos de 2010 e 2011, de todos os assassinatos cometidos pela polícia, 58% das vítimas eram negras. Esse percentual é inclusive maior que o da população negra no estado, que é de 34%.
É por isso que sempre dizemos que a Polícia Militar é uma instituição racista, que vê uma ameaça nos negros, sobretudo nos negros pobres. Existe hoje no Brasil um verdadeiro genocídio da juventude negra nas periferias.
Defendemos a desmilitarização da PM, o fim dessa polícia, com a substituição por uma polícia civil unificada, controlada pelas comunidades.
Mais racismo
Outro caso de racismo que ganhou destaque nos últimos dias, o praticado por integrantes da torcida do Grêmio contra o goleiro Aranha, do Santos, resultou na decisão inédita de eliminar o clube do Copa do Brasil. O trio de arbitragem também foi denunciado pela procuradoria por não ter colocado o episódio relatado por Aranha.
Após terem sido flagrados em ato de racismo contra o goleiro, dois sócios do Grêmio também foram expulsos da agremiação e oito torcedores foram proibidos de frequentar a Arena do clube.
Essas são decisões inéditas que esperamos que sirvam para combater essa prática odiosa, mas tão comum nos campos e nas torcidas de nosso país. Acima de tudo, nossa luta é para acabar com a impunidade e, de fato, garantir punições para quem comete esse crime.
Raquel de Paula é ativista do Movimento Quilombo Raça e Classe e candidata a deputada estadual pelo PSTU