Artigo: O julgamento do Mensalão

9/12/2013 - Oito anos depois da revelação do esquema de pagamento de propina a deputados da base aliada do governo Lula para compra de votos, o conhecido Mensalão, ocorreram as primeiras prisões dos condenados no processo. A prisão de dirigentes históricos do PT, como José Genoíno, José Dirceu e Delúbio Soares, causou um grande impacto e, desde então, este tem sido um dos principais assuntos em debate no país.

De um lado, a direção do PT afirma que as prisões são uma conspiração das elites em conluio com a grande mídia. Chega a defender que o mensalão nunca existiu e o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) foi parcial. Evocam o passado de lutas contra a ditadura militar para mostrar a injustiça a qual supostamente os presos foram submetidos e dizem que eles são presos políticos.

Na outra ponta, órgãos de imprensa e partidos da direita como o PSDB e o DEM chegam a dizer que “agora as coisas vão melhorar”, “que se começa a fazer justiça no Brasil” e atribuem a estes dirigentes e ao PT a responsabilidade pela corrupção no país, numa grande hipocrisia.

Em meio a essas duas posições, uma grande parte dos trabalhadores e da população em geral defende que os mensaleiros devem de ser presos sim, bem como todos os demais corruptos à solta pelo país.

O fato é que as prisões dos dirigentes petistas, apesar de um dia terem tido um passado de lutas, são a expressão mais aguda do processo de degeneração política vivida pelo PT. O partido passou a reproduzir a mesma prática que sempre condenou nos partidos tradicionais.

Isso aconteceu porque lamentavelmente o PT resolveu aliar-se ao grande empresariado e aos partidos tradicionais da direita para chegar ao poder.

No governo, o partido abandonou a defesa da independência política dos trabalhadores e a ideia de transformar a sociedade e acabou por se misturar com o que há de pior na política brasileira. A aliança política feita pelo partido nos últimos anos vai de Sarney a Maluf, até Collor de Melo.

Cinicamente os partidos da direita, como o PSDB, tentam se colocar como os paladinos da justiça, mas também governam apoiados em figuras como Maluf, Sarney e Renan Calheiros, e estão afundados em escândalos de corrupção. Basta citar o “mensalão mineiro” no governo Eduardo Azeredo e o esquema de pagamento de propina e superfaturamento nas obras do metrô em todos os governos do PSDB em São Paulo, desde Mário Covas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tenta aparecer como bastião contra a corrupção. Mas é este mesmo tribunal que livrou da cadeia Collor, Maluf e o banqueiro Daniel Dantas e que se recusa a anular a votação da Reforma da Previdência que, segundo o próprio julgamento do mensalão, foi aprovada de forma fraudulenta.

O PSTU defende que os mensaleiros, bem como Maluf, Collor e tantos outros corruptos sejam presos por seus crimes. Mais do que isso, é preciso o confisco dos seus bens para ressarcir os cofres públicos, bem como a anulação da reforma da Previdência e outras leis aprovadas na base da compra de votos.

Por fim, esses casos de corrupção comprovam que PT, PSDB e os partidos tradicionais representam o mesmo projeto de defesa dos interesses das elites e velhas oligarquias, tratando o Estado com se fossem suas propriedades privadas.

A corrupção é parte do sistema capitalista. É preciso uma alternativa dos trabalhadores e da juventude que combata as mazelas do capitalismo. É preciso um partido socialista e revolucionário.

Por Ernesto Gradella, ex-deputado federal e candidato do PSTU a prefeito de SJCampos em 2012

Artigo publicado no jornal O Vale, em 7 de dezembro de 2013