Barbárie policial faz explodir revolta popular na periferia de São Paulo

01/11/2013  - Dois bárbaros assassinatos perpetrados pela Polícia Militar nas periferias de São Paulo estão fazendo explodir uma verdadeira revolta popular contra a violência do Estado. O assassinato do jovem Douglas Rodrigues, negro, de apenas 17 anos, na Vila Medeiros, zona norte da capital, chocou o país. O adolescente caminhava com seu irmão quando foi abordado por uma viatura. De dentro do carro e sem nem dizer nada, um dos policiais disparou um tiro que acertou em cheio o tórax de Douglas. O rapaz não teve chance de qualquer reação.

Baleado e sem entender o motivo daquela atitude da polícia, Douglas ainda conseguiu perguntar: "Por que o senhor atirou em mim?". Segundo testemunhas, o socorro demorou ainda 10 minutos para chegar, mas o jovem não resistiu e morreu no hospital.

De forma escandalosa, o policial responsável pelo disparo foi detido e autuado por "homícidio culposo", quando não há a intenção de matar. A polícia não revelou a identidade do PM, apenas a versão, pouco crível, de que o tiro dado pelo soldado teria sido "acidental". Segundo o policial preso, a arma teria batido na porta do carro, causando o tiro que, coincidentemente, foi de encontro ao peito de Douglas, que trabalhava como chapeiro em uma lanchonete e cursava o terceiro ano do colegial.

O assassinato do jovem causou comoção no bairro, desatando uma revolta popular contra a violência policial. Foi a gota d'água para um cotidiano de opressão, humilhação e assassinatos pela polícia. Moradores fizeram barricadas, incendiaram ônibus e fecharam por horas a rodovia Fernão Dias. Os protestos explodiram no domingo e prosseguiram durante a madrugada de segunda.

A Tropa de Choque, por sua vez, agiu com violência para conter os protestos. Não contente, a polícia ainda vem intimidando a família de Douglas, circulando com a viatura durante todo o dia em frente à casa da família.

Na terça-feira do dia 29 outro assassinato aumentou ainda mais a revolta da população. Desta vez no Parque Novo Mundo, também na Zona Norte. Um policial assassinou Jean, um adolescente negro de 16 anos com seis tiros. O assassinato ocorreu por voltas das 6h e, segundo a polícia, teria sido motivado por um suposto assalto à viatura de polícia praticado pelo jovem. Os moradores e familiares do garoto, porém, negam essa versão. Revoltados, realizaram um protesto na região e foram também reprimidos pela Polícia Militar.

Repressão e criminalização
Não bastasse ser alvo da violência policial, a população pobre e negra das periferias não tem sequer o direito de expressar sua insatisfação. As revoltas que sucederam os dois assassinatos foram brutalmente reprimidas pela Tropa de Choque da mesma Polícia Militar. A PM ocupou e instaurou um verdadeiro estado de sítio na região, a fim de controlar os protestos.

Grande parte da imprensa fez coro à criminalização da revolta popular e não titubeou em chamar de "vandalismo" e "baderna" os atos de rebelião do povo. A Folha de S. Paulo estampou na capa desse dia 30: "Facção criminosa é suspeita de atuar em protesto em SP", dando a entender que os protestos haviam sido dirigidos por integrantes do PCC.  Evidentemente, o trato da grande mídia com os pobres e negros que se manifestam na periferia não só é diferenciado, tratando-os como “membros de uma facção criminosa”, como também usando balas de verdade para conter as mobilizações.

A cobertura pela TV não ficou atrás e repetia a atuação de "mascarados" nas manifestações. De repente, numa completa inversão de valores, o problema não era mais a violência policial e os assassinatos covardes praticados pela polícia, mas o fato de a população não estar aguentando tudo aquilo calada. Tal atitude justifica-se também pelo medo das autoridades, de que o caso do menino Douglas se transforme em um novo caso “Amarildo”.

Já a reação do governo Dilma não foi menos vergonhosa. Quando um coronel da PM foi agredido num ato em São Paulo, a presidente prestou solidariedade à PM e ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) em menos de 24 horas, colocando, inclusive, à disposição do governo paulista qualquer "ajuda" que fosse necessária para reprimir os protestos. Quando Douglas morreu, a presidente guardou silêncio por mais de dois dias e só se pronunciou diante da pressão nas redes sociais. Porém, ao contrário do que fez em relação ao coronel, Dilma limitou-se a "lamentar" a morte do jovem, como se tivesse sido um mero acidente ou obra do acaso.

Um genocídio cotidiano
Esses recentes assassinatos pela polícia chocaram o país pela frieza e comoção que causaram na periferia paulistana. Mas, infelizmente, estão longe de ser uma novidade para a juventude pobre e negra, acostumada a enfrentar um cotidiano de violência e humilhação da polícia.

Estudo recente divulgado pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada), "Segurança Pública e Racismo Institucional", revelam que o simples fato de ser negro aumenta em oito pontos percentuais as chances de ser vítima de homicídio nesse país. A cada três assassinatos no Brasil, dois são de negros. Nas grandes cidades, as chances de um jovem negro ser assassinado é 3,7 vezes maior do que um branco. A taxa de homicídio retira 1,73 ano da expectativa de vida de um negro ao nascer.

Da mesma forma, as chances de um jovem negro sofrer algum tipo de agressão por parte da polícia é quase o dobro do que um branco. Pela pesquisa, 6,5% dos negros que sofreram algum tipo de agressão, foram vítimas da polícia. Na população branca, esse índice é de 3,7%. Ou seja, ser negro na periferia é fazer parte de um grupo de risco, alvo constante da violência e das balas de uma polícia racista e assassina.

Fim da PM já!
A barbárie policial que está fazendo explodir a revolta popular na periferia de São Paulo traz à tona, mais uma vez, a necessidade mais do que urgente de pôr fim à Polícia Militar, esse entulho autoritário da época da Ditadura e que, cada vez mais, expõe seu caráter racista e elitista. A própria ONU já recomendou o fim da Polícia Militar.

É preciso acabar com a PM e construir em seu lugar uma polícia civil, unificada, com direito de greve e sindicalização, e totalmente controlada pela população.

Além disso, exigimos dos governos do PSDB, da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e do governo do PT, a resposta para a pergunta feita por Douglas no momento de sua morte, e não iremos nos calar até que essa pergunta seja respondida.

Somos todos Douglas! Nenhum Amarildo a mais! Não iremos nos calar!

-Contra o genocídio da população negra e pobre!

-Por uma outra política de segurança pública. Fim da PM, já!

-Fora Alckmin, leve o Grella com você!

-Dilma e Haddad, o silêncio também mata! Exigimos aplicação e ampliação dos recursos do programa “Juventude Viva” (Programa de Redução da Vulnerabilidade à Juventude Negra da Periferia).  Pelo fim da operação delegada!


Fonte: www.pstu.org.br