Zé Maria desafia esquerda a chamar greve geral pelo “Fora Temer”

27/6/2016 - Em debate polêmico realizado no início deste mês com representantes da esquerda, o presidente nacional do PSTU, Zé Maria, fez um desafio à esquerda.  “Se todos nós somos contra Temer, por que não nos unimos pra lutar e botar pra fora esse governo, a reforma da Previdência e o ajuste fiscal?".

O debate ocorreu na mesa de encerramento do 2° Salão do Livro Político, que contou com representantes de alguns dos principais partidos de esquerda do Brasil para debater a atual conjuntura política nacional.

A mesa foi composta por Zé Maria (presidente do PSTU), Luiz Araújo (presidente do PSOL), Valter Pomar (Diretório Nacional do PT), Jamil Murad (PCdoB) e Edmilson Costa (Executiva Nacional do PCB). O debate foi mediado por Jorge Breogan, da Editora Sundermann.

Luiz Araújo, do PSOL, caracterizou o impeachment votado na Câmara como um golpe institucional. “A deterioração da situação econômica do país fez com que motivasse setores da elite e da classe média com uma pauta conservadora, com uma pauta moralista, a ir pra rua”, explicou.

Para Walter Pomar, do PT, o golpe não é só contra Dilma e o PT. “Visa retomar a lucratividade do capital e visa também restringir a democracia. Fazer o capitalismo brasileiro voltar ao normal de ser”, disse.

Polarização social 
Zé Maria, que representou o PSTU, apresentou uma visão oposta sobre as razões da atual crise. Para ele, o Brasil vive uma das maiores crises econômicas de sua história e que, por isso, a burguesia tenta preservar seus interesses e realizar uma grande ofensiva contra a classe trabalhadora, seus direitos e o patrimônio público do país.

Mas Zé Maria discordou que o país vive uma onda conservadora, uma correlação de forças desfavorável para a luta dos trabalhadores. Ele lembrou as inúmeras greves e lutas de resistência que tomaram o país a partir de junho de 2013. “Esse processo não recuou, ele se aprofundou de outras formas. Segundo o Dieese, temos mais greves no Brasil em 2013, 2014, 2015 do que nós tivemos nas mobilizações dos anos 1980 no Brasil. Passaram de duas mil greves por ano”, disse.

Não teve golpe 
Discordando frontalmente da tese de que houve um golpe contra Dilma, Zé Maria explicou que a ruptura da classe trabalhadora com o governo do PT tem relação direta com o estelionato eleitoral vergonhoso de Dilma. “O PT disse que se o PSDB ganhasse as eleições iria tirar a comida da mesa do pobre, que iria privatizar as estatais e atacar os direitos dos trabalhadores. Mas em dezembro, antes de tomar posse, ela criou uma regra para o seguro desemprego que simplesmente retirou a possibilidade da parcela mais pobre da classe trabalhadora de ter acesso a esse direito no momento em que o desemprego aumentava”, explicou.

Os ataques contra o PIS, os cortes de verbas na saúde e na educação levaram os trabalhadores a não defenderem o governo Dilma. “A classe operária e os setores mais pobres da população, antes do impeachment, queriam ver o governo do PT pelas costas, porque se sentiram traídos por ele”, disse.

Para ele, o PT não foi derrotado pela direita com um golpe, e lembrou que o velho PT de luta foi derrotado há muitos anos, quando esse partido resolveu fazer aliança com os empresários e abriu mão de fazer a transformação que a classe trabalhadora pedia. “O que assistimos em todo o ano de 2015, e agora em 2016, foi uma luta política entre dois blocos que expressam interesses da burguesia brasileira. Um deles encabeçado pelo PT, outro pelo PSDB”.

Governando com a direita 
Outra polêmica levantada por Zé Maria foi sobre a lenda de que o PT sempre enfrentou a direita raivosa. Para o dirigente, isso não seria verdade. “A direita estava dividida, uma parte da direita sempre odiou o PT. Mas outra parte da direita estava dentro do governo do PT. Quem é Kátia Abreu? É uma representação da esquerda brasileira? Joaquim Levy, Paulo Maluf, Collor de Melo, Renan Calheiros, Eduardo Cunha?”, questionou em meio a aplausos.

Também lembrou que o programa econômico de Dilma em seu segundo mandato é exatamente o mesmo que Temer apresenta hoje. “Não era fazer a reforma da Previdência com idade mínima pra se aposentar? Não era fazer um ajuste fiscal que eliminasse investimentos públicos?”, questionou.

Polemizando novamente com a maioria dos palestrantes, Zé Maria disse que não é verdade que a burguesia retirou o PT do governo porque aplicou uma política econômica que produziu algum avanço para os pobres. “Afinal o pró- prio Lula disse que os empresários nunca ganharam tanto dinheiro como em seu governo. Falou ou não falou isso?”, disse.

Greve geral 
O dirigente do PSTU defendeu que a solução da classe trabalhadora “é botar pra fora Temer e todos eles, porque são todos eles que querem aplicar nesse país esse programa econômico que garante essa ofensiva do empresariado”, explicou.

“Se todos nós somos contra Temer, por que não nos unimos pra lutar e botar pra fora esse governo, a reforma da Previdência e o ajuste fiscal? Por que não nos unimos todos? A CUT, CSP-Conlutas, CTB, PCdoB, PSTU e PCB e vamos convocar uma grande Greve Geral contra a reforma da Previdência, o ajuste fiscal e pra botar pra fora Temer? Isso nos une, a volta de Dilma não”, desafiou.

Matéria publicada originalmente no jornal Opinião Socialista 519