O domínio econômico na eleição de deputados

14/10/2014 - Levantamento feito pela Transparência Brasil, com base na segunda prestação de contas das campanhas dos deputados federais eleitos no último dia 5, revela que um grupo de 30 empresas foi responsável pela doação de 63% do dinheiro recebido pelos candidatos.

No total, os 513 deputados eleitos para a próxima legislatura declararam ter recebido R$ 168,3 milhões em doações feitas por 1.916 empresas. As 30 empresas, que correspondem a 1,5% do total de doadores, foram responsáveis por R$ 105,4 milhões para esses políticos. Ou seja, de cada R$ 3, esse grupo foi responsável por doar R$ 2.

O maior financiador, com base nesta segunda prestação de contas à justiça eleitoral, é a empresa JBS, dona de marcas como a Friboi e a Seara, que tornou-se uma gigante do setor de frigoríficos com uma ajuda de R$ 10 bilhões do BNDES. Até setembro, os deputados haviam recebido R$ 27 milhões do grupo. As principais bancadas beneficiadas foram a do PTB (R$ 8,3 milhões), do PP (R$ 7,3 milhões) e do PR (R$ 5,5 milhões).

A OAS, com R$ 14,5 milhões, foi a segunda maior doadora. A empreiteira ajudou a eleger congressistas de nove partidos, com destaque para o PT (R$ 10 milhões em doações para os deputados petistas eleitos no domingo).

Em terceiro lugar, estão as empresas do Grupo Vale que doaram R$ 11,2 milhões a deputados eleitos por 13 partidos. Os maiores beneficiários foram os parlamentares do PMDB (R$ 3,1 milhões).
Em seguida, vêm a Ambev, com R$ 5,2 milhões. A empreiteira Queiroz Galvão foi a quinta maior doadora para a nova legislatura da Casa (R$ 3,5 milhões doados).

No total, nove empreiteiras estão na lista das 30 maiores doadoras. Além da Queiroz Galvão, se destacam a UTC Engenharia (R$ 3,1 milhões) e a Odebrecht (R$ 2,5 mi).

A base da corrupção
O prazo final para a contabilidade definitiva das candidaturas só sai em novembro. Mas o poder econômico das empresas privadas nas eleições sem dúvida só será confirmado.

O fato é que o financiamento privado está no início do ciclo de corrupção que toma as relações com o setor público no Brasil. É o que explica, por exemplo, escândalos como o do superfaturamento das obras do Metrô de São Paulo, envolvendo pagamento de propina a políticos do governo PSDB. Recente levantamento revelou que sete dos dez maiores doadores de campanha em 2010 são suspeitos de corrupção.

Para Toninho Ferreira, presidente municipal do PSTU e candidato a deputado federal nas eleições deste ano, fica cada vez mais comprovado a urgência em se proibir o financiamento privado de campanha. “Não existe doação. Trata-se de um toma lá, dá cá, em que as empresas realizam um investimento para obter vantagens em dobro. Após as eleições, os candidatos eleitos abrem os cofres públicos para contratos superfaturados de obras, favorecimento em licitações, caixa dois, além de leis que favorecem as empresas. Os políticos são comprados ainda na campanha eleitoral”, criticou.

O PSTU não aceita dinheiro de grandes empresas. Fizemos nossas campanhas apenas com o apoio da militância e trabalhadores que acreditam em nossas propostas. Fomos o único partido a ingressar com ação na Justiça, junto com a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), pedindo a proibição do financiamento privado de campanhas”, disse.

Defendemos a proibição da doação de empresas no processo eleitoral e aos partidos. Esta seria uma das formas de garantir o mínimo de igualdade de competição no processo eleitoral, marcado por tantas desigualdades, bem como combater a influência de empresas nas eleições e a corrupção”, concluiu Toninho.



Com informações jornal Estado de S.Paulo