Na luta contra a reforma da Previdência, trabalhadores gregos já fizeram três greves gerais em um ano

9/2/2016 - Por: Xara Arghiris

No dia 04 de fevereiro, foi realizada na Grécia a terceira greve geral em um ano do governo do Syriza.

No início, foi convocada pela Confederação de Sindicatos de Funcionários Públicos (ADEDY) e pela Confederação Grega dos Sindicatos do Setor Privado (GSEE).

Também foi convocada pela PAME, a Coordenação de sindicatos dirigida pelo Partido Comunista (PKK), ainda que tenha marcado uma concentração e passeata para outro lugar.

O eixo central dessa medida de força que significa a greve geral é o repúdio à reforma do sistema de previdência social, mas também contra os cortes e as privatizações.

Os trabalhadores começaram a manifestar sua reação. Durante todo o mês de janeiro, em Atenas, ocorreram manifestações de diferentes setores contra a reforma e os cortes. Mais uma vez, são contra um governo que está aplicando planos de austeridade, com muito mais profundidade que os governos anteriores. Também se reviveu a repressão de sempre nos protestos, com idosos que protestavam contra a perda de suas pensões sendo golpeados.

O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, defende que a Reforma do Sistema Previdenciário é a única opção para que o sistema sobreviva, mas hoje enfrenta o repúdio massivo de todo o povo grego, que exige nas ruas a retirada do projeto. Em sua longa lista de promessas não cumpridas estava “a recuperação imediata do pagamento extra”. Em troca, aceitou a cláusula de déficit zero imposto pela Troika. Isso significa o compromisso de economizar com a previdência 1% do PIB anual, que equivale a 1,8 bilhões de euros.

A participação na greve geral foi se ampliando a mais setores: médicos de hospitais públicos e de centros de saúde, artesãos e comerciantes, funcionários municipais, confederação de trabalhadores da energia elétrica, taxistas, farmacêuticos, o transporte com serviço limitado nos metrôs, bondes e ônibus e paralisação total nos trens e troles, associações de profissionais liberais e autônomos.

A Federação de Marinheiros, que vem lutando por outra promessa não cumprida, realizou uma greve de 48 horas. Nos primeiros dias de governo, o Syriza cancelou várias vendas em curso, mas, assim que assinou o memorando, voltou atrás. A exigência é de 50 bilhões de euros em privatizações.

Os produtores agropecuários, assim como os pequenos agricultores, mantiveram por vários dias 62 pontos de bloqueio em todo o país. No dia 04 de fevereiro, resolveram permitir a passagem onde fosse necessário para não serem um obstáculo aos que queriam participar das mobilizações.

Nada para festejar
No dia 25 de janeiro, fez um ano desde o dia em que o Syriza e Alexis Tsipras saíram amplamente vitoriosos das eleições gregas. Um resultado eleitoral que havia sido expressão de um grande triunfo dos trabalhadores e do povo grego contra os partidos tradicionais ND e PASOK, executores da destruição do país nos últimos cinco anos, aplicando os duríssimos ajustes ditados pela Troika.

Tsipras esqueceu rapidamente que foi eleito por milhões de pessoas em repúdio à desastrosa situação econômica e aos conhecidos “planos de austeridade”. Assim começa sua transformação. Deixou de lado as lutas realizadas pelos trabalhadores contra cada pacote de medidas, cada memorando, e as 35 greves gerais das quais participou.

A maioria do povo grego tinha grandes ilusões e expectativas. Acreditaram profundamente nas promessas da campanha de Tsipras de “recuperar a dignidade nacional” e no discurso de “vamos enfrentar os planos de austeridade”. Viram no partido Syriza “o novo” e “a esquerda” pela primeira vez no governo e com quem lutariam contra Merkel e os credores da Troika.

Syriza, história de traições
A desilusão chegou muito rápido. A experiência do povo grego com o governo “de esquerda” foi vertiginosa. Passou a ser como o chamam agora: o governo “nem um pouco de esquerda”.

O Syriza priorizou a “negociação” com o capital financeiro, não avançou na ruptura com o euro e a Troika. Ao contrário, aceitou a “renegociação para a dívida”, assinou o terceiro memorando e seguiu em um caminho oposto à vontade popular.

Sua política não foi para o resgate dos trabalhadores e do povo, nem para devolver os empregos, nem por salários e aposentadorias dignas, não foi para devolver o sistema de saúde e educação públicas, nem pelo direito à moradia.

Tsipras traiu a luta permanente do povo grego contra a “austeridade”, de quase seis anos, e traiu as profundas aspirações de mudança três vezes em um ano: 1) depois das eleições de janeiro; 2) no contundente triunfo do NÃO no plebiscito; e 3) em sua reeleição em 20 de setembro de 2015.

Ele se transformou no executor das exigências do memorando, cedeu à intransigência da Troika e do imperialismo. Agora avança com as medidas exigidas pelo terceiro resgate, dando continuidade à política dos governos anteriores com cada vez mais cortes, agravando a situação econômica grega. A dívida externa, em janeiro de 2015, era de 324 bilhões de euros. Hoje, chega a 363 bilhões, incluindo os 86 bilhões do terceiro resgate.

No entanto, para Tsipras existem motivos para festejar e, em seu discurso no último domingo, disse, entre outras coisas: “Podemos mudar a Grécia, podemos mudar a Europa. Podemos derrotar aqueles que até ontem pareciam invencíveis. Estamos dando a batalha, avançamos. Um ano de esquerda, um ano de batalhas, um ano de lutas para mudar nossas vidas.”

Sua maior preocupação se tornou passar no “primeiro exame do resgate” e receber a aprovação do Eurogrupo e da Comissão. Mesmo que já receba as palavras complacentes do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, de como a “Grécia deu passos firmes, vai em boa direção”, mas está sendo muito difícil aprovar a reforma da previdência, que neste momento é o ponto central.

Unidade de todas as lutas contra o ajuste de Tsipras e da Troika
Esta terceira greve geral marca um importante salto na luta política contra o plano de austeridade que o Syriza quer aplicar. É uma resposta contundente dos trabalhadores às contínuas traições.

O processo de resistência avança e se torna imprescindível discutir a unificação e a coordenação com as Centrais Operárias e as organizações de esquerda e sociais. É necessário um plano de luta nacional para dar continuidade às medidas de força e que não sejam somente um número. A única saída para os trabalhadores e o povo grego será confiar em suas próprias forças, conquistar a organização independente e sem nenhuma confiança no governo.

Tradução: Raquel Polla

Fonte: http://litci.org/pt