Condenação da Ericsson: uma vitória contra a homofobia

12/5/2014 - A luta contra a homofobia teve uma vitória importante na última semana em São José dos Campos. A multinacional Ericsson foi condenada na justiça a pagar uma indenização de R$ 90 mil ao ex-funcionário Maximiliano Neves Galvão, de 31 anos, por assédio moral e homofobia.

Técnico em eletrônica, Max sofreu discriminação por parte de colegas e da própria chefia durante os quatro anos em que trabalhou na Ericsson. Vítima de homofobia, o trabalhador procurou apoio em diversas instâncias da empresa, como no Departamento de Recursos Humanos e Assistência Social, sem receber ajuda. E o que é pior, sendo ainda mais discriminado.

Eu era chamado de bicha, maricas, viadinho pelo supervisor e pelos colegas. Quando procurei a assistente social, ela disse que isso era normal em um ambiente de trabalho e me aconselhou a fazer tratamento psicológico, para aprender viver em harmonia com a sociedade”, relatou Max indignado.

O trabalhador conta que era constantemente provocado, mas não conseguia reagir. “Aceitava as humilhações quieto. Colocava minhas necessidades em primeiro lugar, pois precisava trabalhar”.

Um dos testemunhos relatados durante o processo diz que “o gerente Osvaldo usou um formulário administrativo, conhecido como gabarito rosa, e disse que o documento era bissexual e que daria para ser usado dos dois lados”, falando em tom de ironia ao trabalhador.

Demissão
Depois de suportar a humilhação por anos, e desenvolver um quadro depressivo, o metalúrgico decidiu reagir. “A situação ficou insustentável, havia um clima horrível contra mim na empresa. Já não tinha mais vontade de trabalhar, então decidi dar um basta na situação. Não podia mais aguentar aquilo calado”, contou Max.

Em junho de 2013, após o boato de que entraria com um processo contra o supervisor, Max foi demitido sob alegação de que estava fazendo “fofocas”, intrigas e desestabilizando o ambiente de trabalho. “Não aceitei a demissão. Sempre fui um bom profissional, recebi cartas honrosas da Ericsson. Fiquei revoltado, não aceitei sair de cabeça baixa, como um criminoso”.

Ao se recusar a assinar a carta de demissão, o responsável chamou a segurança da empresa para o trabalhador. “Os seguranças chegaram a me levar de carro até minha casa, para ter certeza que eu estaria fora da fábrica. Foi uma atitude de intimidação”, lembrou.

É preciso denunciar 
A discriminação presente na sociedade, seja por racismo, machismo ou homofobia, é uma prática constantemente praticada e incentivada pelas empresas para dividir e explorar ainda mais a classe trabalhadora.

Deixo um alerta aos que sofrem o mesmo tipo de discriminação: é preciso denunciar, correr atrás de seus direitos, antes que a depressão te deixe inerte diante da opressão sofrida”, disse.

A indenização financeira não repara os danos psicológicos causados pela homofobia. Mesmo assim, me sinto vitorioso pelo reconhecimento de tudo que sofri”, avalia Max.

A decisão judicial é a segunda, em menos de um ano, na região. Em novembro de 2013, a justiça condenou a Intertrim, fábrica de autopeças de Caçapava, a pagar uma indenização de R$ 30 mil ao trabalhador Jefferson Rodrigues Florêncio.

O processo foi julgado em última instância e a Justiça do Trabalho entendeu que o metalúrgico, demitido em 2011, foi vítima de discriminação e humilhação por ser homossexual.

Tantos outros continuam em andamento na justiça, a espera de resolução. Um deles é o de Telma Cristina, ex-trabalhadora da Embraer de São José dos Campos, vítima de racismo e machismo dentro da empresa.

Uma punição exemplar às empresas que usam deste tipo de conduta discriminatória e opressiva é um passo importante na luta pela criminalização do racismo, machismo e homofobia”, afirma o presidente do PSTU de São José dos Campos, Toninho Ferreira.

Por Manuela Moraes