Com 2.300 mulheres, encontro do MML entra para a história e fortalece alternativa feminista e classista

8/10/2013 - O sentimento geral era de alegria e vitória ao final de três dias de debates do 1° Encontro Nacional do Movimento Mulheres em Luta (MML), realizado no último final de semana. Não era para menos.

Foi um dos maiores eventos do feminismo classista dos últimos 20 anos, com a participação de 2.300 mulheres e todas as companheiras presentes sabiam que estavam fazendo história.

Em um reflexo do novo momento que vive o país, participaram trabalhadoras de diversas categorias, juventude, aposentadas, donas de casa e desempregadas. Estiveram presentes mulheres que estiveram à frente das manifestações de junho e das várias lutas em curso, como a greve dos professores do Rio de Janeiro, a ocupação Esperança, de Osasco, etc. O evento contou ainda com uma forte delegação internacional, com mulheres do Paraguai, Bolívia, Argentina, Peru, Espanha, Inglaterra, Índia e Síria.

O encontro teve início na sexta, dia 4, em Belo Horizonte, e prosseguiu no sábado e domingo, em Sarzedo/MG. Em pauta, o debate sobre o machismo e a opressão e como avançar na organização e na luta das mulheres por seus direitos.

Para falar sobre os principais temas, as mesas do encontro trouxeram personalidades simbólicas como Lola Aronovich, do blog 'Escreva Lola Escreva'; Soma Marik, intelectual e ativista indiana que luta contra os estupros na Índia; Elisabeth Gomes da Silva, símbolo da luta contra a violência policial ao povo pobre após o desaparecimento do seu marido Amarildo e Sara Al Suri, ativista síria.

Nos debates em plenário e nas discussões em grupos, as participantes debateram questões específicas como a violência, o assédio moral e sexual, creche e o direito à maternidade, condições de trabalho e direitos, aborto e sexualidade, trabalho doméstico, aposentadoria, situação da mulher negra, da mulher trans, aposentadoria, educação, etc.

A situação das mulheres trabalhadoras após dez anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) foi destaque nas falas, que denunciaram que os governos Lula e Dilma mantiveram a política neoliberal, priorizando os interesses dos empresários, com uma política de desonerações, incentivos fiscais e privatizações.

Enquanto isso, sem uma política concreta em defesa das mulheres, a diferença de salários entre homens e mulheres voltou a crescer e a violência contra as mulheres aumentou apesar da Lei Maria da Penha.

Avança alternativa feminista e classista
Numa avaliação sobre o encontro, Camila Lisboa, da executiva nacional do MML, afirmou que o evento consolida um movimento de mulheres classista com condição de apresentar um programa de luta para esse novo momento de grandes mobilizações do país.

Com a força desse encontro, com certeza saímos preparadas e organizadas para derrotar o Bolsa Estupro, exigir dos governos que combatam a violência contra as mulheres, garantam o direito à creche, trabalho igual para salário igual e todas as nossas reivindicações”, afirmou.

Para Janaína dos Reis, do MML do Vale do Paraíba, eleita para a direção executiva do movimento, este encontro entra para a história do MML e das lutas das mulheres brasileiras.

A caravana do Vale do Paraíba enviou três ônibus para o encontro, com trabalhadoras metalúrgicas, aposentadas, professoras, mulheres do Pinheirinho, juventude, trabalhadoras dos Correios, entre outras.

Com certeza, avançamos na construção de uma alternativa classista, independente dos patrões e do governo, para lutar contra o machismo e a opressão e em defesa das mulheres da classe trabalhadora e da juventude”, disse.

Campanha contra a violência
Uma das principais resoluções aprovadas no encontro foi uma campanha nacional contra a violência às mulheres. A proposta feita pela direção do MML prevê que a campanha tenha cinco eixos, enfocando a violência do Estado às mulheres, a violência doméstica, sexual, no trabalho e urbana.

Vamos colocar na rua uma forte campanha nacional para organizar as mulheres e dizermos um basta à violência” afirmou Janaína.

Vamos lutar para que a lei Maria da Penha saia do papel, com investimentos do governo, para garantir, por exemplo, casas abrigo. Queremos o fim da violência policial, do assédio moral e sexual, dos estupros, da desigualdade salarial. Vamos exigir passe livre e transporte de qualidade e o arquivamento do Estatuto do Nascituro e da Bolsa Estupro”, exemplificou Janaína.

Segundo Janaína, a próxima tarefa é construir um grande dia de luta em 25 de novembro, Dia Latino-Americano Contra a Violência à Mulher.

Leia também: Atividade de apresentação do PSTU reúne 1.500 mulheres