Artigo: A GM e as chantagens do capitalismo

5/8/2015 - Por Ernesto Gradella 
A novela tem se repetido nos últimos anos. A GM alega crise ou, ao contrário, planos de investimentos, e a solução apontada é sempre a mesma: precisa reduzir salários e aumentar a flexibilização dos direitos dos trabalhadores.

Segundo informações divulgadas pela imprensa, a fábrica de São José não receberá nenhuma parcela do investimento de R$ 13 bilhões anunciado pela montadora. O motivo seria a “falta de competitividade do complexo”.

Ora, primeiro, é preciso registrar que se isso ocorrer a GM simplesmente está descumprindo o acordo negociado com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José. Em 2013, após um longo processo de negociação, fechou-se um acordo em que consta que a planta joseense seria prioritária em um futuro plano de investimento.

Entretanto, a melhor forma de entender a obsessão da GM em aumentar a exploração dos metalúrgicos é analisar o que esta multinacional tem feito em todo o mundo, principalmente após a crise que explodiu em 2008.

Todos devem se lembrar que a GM teve de decretar concordata em 2009. O governo Obama, que já havia entregue US$ 20 bilhões para salvar a empresa, desembolsou mais US$ 30 bilhões e ficou com 60% das ações. O restante ficou com o sindicato dos trabalhadores na indústria automobilística UAW (17,5%), governo do Canadá (12,5%) e acionistas particulares (10%).

A GM já vinha se reestruturando, mas a crise mundial acelerou esse processo. A montadora tem aplicado uma brutal reestruturação, com fechamento de dezenas de fábricas no mundo, milhares de demissões, rebaixamento de salários e direitos, cortes de custos, encerramento da produção de carros, etc.

Ou seja, o que temos assistido é a GM aumentar sistematicamente a exploração para manter sua taxa de lucro, sem qualquer escrúpulo, sem qualquer regra. Assim é o capitalismo.

O discurso da GM e do empresariado contra o Sindicato é mais do mesmo: ideologia para justificar a ganância da montadora e garantir seus lucros, independente de sua irresponsabilidade social com os trabalhadores, com São José ou mesmo com o país.

O Sindicato enviou carta à GM cobrando explicações, uma vez que não foi informado oficialmente de tal decisão. A GM deve explicações aos metalúrgicos e à população joseense.

Os governos Dilma (PT), Alckmin (PSDB) e Carlinhos (PT), bem como os vereadores de São José, foram fiadores da empresa em 2013 e têm o dever de cobrar que a montadora cumpra o que foi acordado.

Não pode ser que os trabalhadores brasileiros sigam sendo reféns das multinacionais que exploram em nosso país, onde vendem o carro mais caro do mundo e obtém lucros recordes para enviar ao exterior. Até por que não é só a GM que vem atacando os trabalhadores. Situações semelhantes estamos assistindo na Volks , Ford e Mercedes, por exemplo.

Para acabar com a farra que as multinacionais praticam no país é urgente a adoção de medidas como a proibição de demissões imotivadas e em massa, garantia de estabilidade no emprego, proibição de remessa de lucros ao exterior e a criação de um contrato coletivo nacional.

Multinacionais que demitirem em massa e desrespeitarem acordos e leis brasileiras devem ser nacionalizadas e estatizadas. Além disso, o Brasil tem potencial e tecnologia para produzir o primeiro carro nacional, ao invés de ser um paraíso para montadoras estrangeiras e ficar refém de medidas como as tomadas pela GM.


Ernesto Gradella é ex-deputado federal e dirigente do PSTU de São José dos Campos

Artigo publicado no jornal O Vale, de 5 de agosto de 2015